O vinho da tâmara chama-se lagmy
e foi uma taça de lagmy que um pastor cabila
a Gide ofereceu nos belos jardins de Uardi.
Gide bebeu todo o sôfrego vinho
e viu gerar-se vasto oásis em sua íris
da pupila viu brotar o tempo íntimo
o deserto dessedentou-se em sua boca rubra
a tarde apascentou-se em sua mão de lua.
Entre flores afegãs e pedras beduínas
Gide navegou
no dorso dos camelos da utopia
nas águas fundas da fantasia
nas ásperas naves
do seu sonho árabe.
Gide embriagou-se longamente
com o vinho capturado
do coração das tâmaras profundas.
(Do ciclo Carpe Diem)
Orvalho cálices invade
com gotas de grito redondo
peso do silêncio estraçalha
taças azuis e copos de cobalto
pólens úmidos esmaga
rudes estames crava
na cruz da pétala
(néctar moribundo prega
no peito da abelha operária).
Usado hímen da rosa
logo se acrisola.
Buquê acrílico
torna-se lua ilhada
do quinteto palavra.
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