03
Dom, Ago

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O vinho da tâmara chama-se lagmy

e foi uma taça de lagmy que um pastor cabila

a Gide ofereceu nos belos jardins de Uardi.

 

Gide bebeu todo o sôfrego vinho

e viu gerar-se vasto oásis em sua íris

da pupila viu brotar o tempo íntimo

o deserto dessedentou-se em sua boca rubra

a tarde apascentou-se em sua mão de lua.

 

Entre flores afegãs e pedras beduínas

Gide navegou

no dorso dos camelos da utopia

nas águas fundas da fantasia

nas ásperas naves

do seu sonho árabe.

 

Gide embriagou-se longamente

com o vinho capturado

do coração das tâmaras profundas.

(Do ciclo Carpe Diem)

Orvalho cálices invade

com gotas de grito redondo

peso do silêncio estraçalha

taças azuis e copos de cobalto

pólens úmidos esmaga

rudes estames crava

na cruz da pétala

(néctar moribundo prega

no peito da abelha operária).

 

Usado hímen da rosa

logo se acrisola.

Buquê acrílico

torna-se lua ilhada

do quinteto palavra.

{jcomments on}

Murilo Gun

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