As palavras poéticas montadas em sintagmas velozes como cavalos filológicos e selvagens (ou soltas na hara da página), quase indomesticáveis, engolfadas em paradoxos e incompatibilidades ou extremas disparidades entre substantivos (passivos às vezes) e adjetivos, que o poeta conubia, faz interagir, acasala pois, de modo mais íntimo possível, alcançando autêntica boda sintagmática oficiada por solene paradigma (paramentado de metonímias).
O que vemos na poesia hoje (de hoje) é a morte e a vida, o real e o imaginário, o alto e o baixo, o comunicável e o ambíguo ou parcial ou inexato por definição, tudo de mãos dadas e convivendo harmônica e profundamente num mesmo sintagma vivo.
Essa congratulação imprópria, esse dar às mãos esquerdas, essa passional congruência de incongruências belas, inéditas, quase perfeitas, não devem nem podem ser vistas como contrariedades sintáticas (ou mesmo lógicas) ou inconvencionalismos gramaticais (ou inclusive monstrengos lógicos e grotescos).
Os conceitos inapropriados e inéditos da poesia moderna são sinais da evolução não só cultural mas psicológica da alma do homem, pois Deus se revela através de “concetti obscuros”, dispara Tesauro (em Maneiras de fabricar o conceito e modos do estilo erudito).
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