03
Dom, Ago

destaques
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Texto de pássaro e quartzo, mundo
de comovente mármore
árvore de sono e vigília, ramos
de nomes canoros e ouro alelúiuco


céu de tons áureos e pétreos caminhos
rima de cores berrantes, sonorosos ribeiros
trombetas de bocas inconsoláveis
com vômitos de anjos ocupadas
e linfas geométricas serpenteando
entre músicas cristalinas e algas de solfejo
urna de arco-íris, penca de bem-te-vis
alaranjados de cujos canoros esôfagos brotam
flores irredimíveis, contraltos de prata
texto lunar, hiperbóreo, clavicular, ibero
texto de mares alevantados e minuciosos
cores da lepra em profusão doente
nas carnes do meio-dia, timbres tumulares
adentrando lápides
iluminando epitáfios
nas estribeiras cinzentas do riacho
cadavérico de teus olhos inamistosos
cegando a paisagem eufórica do poema
rimas de nuvens dos céus de setembro
nimbos de abelhas, relâmpagos de ferrão e pólem embriagado de ar
texto de elos longos, cânticos de cidreira
partituras de sal, celas de candeia, sonatas pétreas
lumes de baunilha, gumes de ameixa
das solenes ameias arqueiros imperecíveis
textos de aloés invicto, ambrosias
dos lábios de deuses derramadas
texto de cortesã encastelada em nobres falos
alevantados menires cárneos
odor de donzelas amadeirado de cio
cisternas de gozo iluminado púbis
moçoilas de húmus cativante e vivos e róseos
dos prélios da libido vencedoras amantes
texto de hímens delirantes e hinos viris
sons volumosos do gozo, trompetes de gemidos, eco da pequena morte
lascívia estampada nos acordes inefáveis dos trombones dos delírios
deliciosos da carne
texto de cadelas cedulares e células de volúpia
soberba multiplicando cores do orgasmo
árabe texto perdido num ás do oásis
de teus olhos tão benditos
beleza deserta porque impossível ornada
por uma coroa de perdizes arenosas
num sábado beduíno escravocrata
texto que desliza ao mover dos punhais
dos seus sorrisos alumiados de gumes
dos cantos movediços de tua boca o infinito
desnudando-se como amêndoa de precipício
desgrudada de teu cio infinito
texto de pântanos e bafios, miasma sombrio
e celestiais sílabas escandidas
dos nomes avulsos de Deus
texto cruel de nômade abril
escrito na água do delírio
que desce do sexo de cascata da mulher
em coito com a eternidade dos ungüentos macios e selvagens
e óleos voluptuosos que manam de fêmeas fontes do eterno e do nome
texto estro eslavo e ávido
porque lascivo e nunca senil
texto de entulho de prédio, barco
casa, avenida, criança e esperança
movido a tsunami e crocodilo
texto de armas automáticas
da mão de mercenários líbios
gemido desesperança do fundo da alma
humana agonizando como barata
num banho de DDT, texto
ametista brilhando no espírito da safira
texto de rouxinóis de Vertentes
e gaivotas do Atlântico.
Poema escrito no pano verde da sala
de jogos de cartas do navio Bleu de France
navegando no Atlântico, às 3 horas da manhã
da sexta 11 de março de 2011.

Murilo Gun

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