De João Cabral de Melo Neto sobre Murilo Mendes: “Sua poesia me foi sempre mestra, pela plasticidade e novidade da imagem – sobretudo, foi ela (a poesia de Murilo Mendes) que me ensinou a dar procedência à imagem sobre a mensagem (ou em prejuízo ou sacrifício, às expensas da mensagem); ao plástico sobre o discursivo (ao significante em detrimento do significado)”.
Após tal confissão sincera cabralina, chamo à colação alguns perfeitos e absolutos versos murilianomendeses:
“Os engenheiros subterrâneos improvisaram uma ponte de camélias”.
“Os rochedos colocam-se máscaras de pássaros”.
“O choque da foice contra cristais milionários”.
“Que se passará nos salões das gaivotas”.
“O horizonte volta a galope”.
“O choque das catástrofes migradoras com o silêncio cristalino das janelas”.
O aforisma muriliano – que Cabral adotou na sua poética: Na poesia, deve-se passar, para evoluir-se, do mundo adjetivo para o mundo substantivo”. Esse foi o modo Murilo Mendes de fazer poema.
Essa substantivação da poesia se flagra em algo: “O que raras vezes a forma revela / o que sem evidência vive/ o que a violeta sonha / o que cristal contém / na sua primeira infância”.
O livro crucial de MM é o poemário Tempo Espanhol (que João Marques leu a valer, numa indicação precisa e astuta minha, que senti a poesia joaomarquesana evoluindo para o modo murilomendes de compor poesia).
Haroldo de Campos, numa das mais brilhantes análises da poesia desse mineiro da altura de Drummond, dixit:
“Tempo espanhol é um livro domado e severo. De maturada maturidade. Poesia magra e dura, sem nenhuma concessão (nenhuma mesmo) ao sentimentalismo superficial (de pele, não de alma) dos melancólicos (ou com cólicas melódicas) escudeiros da poesia-liricizante, da poesia semente”.