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O professor de teoria literária da FAMASUL-Palmares, Admmauro Gommes, eu o tenho como um homem cortês, inteligente, cultivador, religioso e magnífico poeta.

Nos últimos dois anos, tem desenvolvido um trabalho espetacular pela introdução de um novo conceito ou renovação conceitual de poesia, à frente do movimento literário Poesia Absoluta. Tem produzido Admmauro Gommes poemas e crítica sobre o que eu nomino de poesia remoderna ou neoposmoderna.

            Ele tem liderado a batalha vital pela dessentimentalização da poesia, cuja frente principal é a tal de inspiração.

            Recentemente, ele levou à classe uma lata de papel de margarina e incentivouos alunos a se inspirarem nela e produzir poemas durante a aula. O resultado foi surpreendente.

            Cerca de 15 poemas, feitos ex-abrupto de bom nível e fiéis à temática inusitada. Algo surpreendente que degrada o elemento inspiração, tão valorizada por poetas relativos.

            No outro lado da questão “romântica” que induz o poetar, está o sentimento. Hoje, é unanimidade na FAMASUL (Cícero Felipe, Sylvia Beltrão, Ricardo Guerra, Wilson Santos (ainda não), e o próprio AG) que poeta melhor é o de alma seca.

            Convenho, no entanto, que não se pode prescindir da sensibilidade que é o sentimento, em nenhum ato ou fato da vida.

            No entanto, a questão é a fragilidade ou pejoração de que se acoimam os usos do sentimento na poesia.

            Daí, proponho o termo feeling poético, expressão que supera o conceito tão abusado de sentimento, no Brasil.

            Poesia, hoje, não pode ter a haver com razão, pensamento, sentimento. Assim consideradas, estas instâncias reduzem-se, na poética, a domínios do ego, portanto monopólios egoicos, encampação egoísta do resultado ou produção do trabalho poético. E despreza a ação vital do instinto inconsciente como instância criadora. A razão (prática) apela ao sentimento, mobiliza-o e este aparece como condição do humano. O que, além de não ser verdadeiro, não é  nada poético.

            O poema não é fruto de algo racional ou sentimental (em conjunto ou não) porém é uma insight do feeling.

            Não o gera (ao poema) hábito ou crença, não é saber ou credo (automática inspiração, dom divo, posse romântica, expressão do coração); não é resquício de uma devoção religiosa, algo que veio desde as infâncias, possessão de algum deus lírico, determinação familiar, dons de genes, nada disso. Poesia é cognição fruída de fonte ídica. Pecado novo, pranto dos olhos, pálpebras congeladas, pestanas árduas. Discurso do inconsciente. Encaixe na episteme da época.

            É qualidade do poema parecer esotérico ante o senso comum... e este é ignaro.

            Episteme da época congloba uma atitude em que o saber se eleva e cria uma cognição superior. Sabedoria interior. Desejo e gozo líricos.

            Em poesia absoluta, sintetizo: nihil est in sensu quod non prius fuerit in intellectus, antiperipateticamente patético.

            A introvisão (o isight) é de natureza cognitiva, nada sentimental ou sensitiva.

            Há uma necessária preterição, portanto, dos processos operadores da consciência em favor daquelas suficientemente inconsciente. Seja isso o queira dizer a mais (e melhor).

            O sentimento não há como utilizá-lo criativamente, ele despedaça a imaginação, falsifica a verdade poética, disfarçado em algo bom, elevado. Já o feeling consulta a intuição, é complexo, instintivo, largo, lírico por natureza.

            O feeling poético induz, pressupõe ou gera um campo lírico, onde o dínamo sintagmático atua gerando poemas absolutos. E estes rejeitam quaisquer análises superficiais, habituadas a tratar da velha poética, caracterizada pelas marcas anacrônicas de rima, pés, estrofes metrificadas etc.

            É que a análise do poema elementar visa destacar ou destocar, tirar da toca os dados explícitos e não construir possibilidades de vário entendimento. A poesia absoluta tem mais haver com destruição vocabular, frásica, gramatical, do discurso do que construção. Daí, figuras exponenciais da teoria absoluta (Admmauro Gommes, Marcondes Torres Calazans, João Constantino, entre outros) dedicarem-se a explorar várias vertentes do desconstrutivismo.

           

             

Murilo Gun

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