Os objetos reais (mundanos, tudo o que é reificado pelo humano) não têm sentido em si. Têm uma forma material ou mental, mas, sobretudo, função (servil quase sempre), objetividade crua (e designe maduro), utilidade direta (move-os uma práxis pragmática).
São meios para o progresso (sic) material (econômico-social), para sobrevivência física (individual) e como espécie (via sexo e luxúria do homem erotizado de nossa era).
Os objetos reais, tal como conceituado, repito, não têm sentido em si, mas através da palavra, da floresta de símbolos (que brota do páramo da página) que elas (as palavras) carregam em seus ombros filológicos, constroem e de que são construídas.
A palavra poética é mais que representação do objeto (é outro objeto), é constituição do humano.
POESIA FORMA DE LUTA (LIBERTAÇÃO)
A poesia é uma forma de luta (contra as forças que intentam congelá-la, represa-la, submetê-la à inércia e ao estabelecido). Por sua vez, a linguagem pé arma de libertação do humano (das amarras do permanente), da situação ou condição hominídea. Instrumento da alma, é pela linguagem que tudo acontece (e flui o que evola). E sua evolução, não seu aspecto estático, mais estético (pois estético é o traço vital do humano) é o que move o homem do estágio da hominideanização à humanização. (Muitos “humanos”, sobretudo “aqueles” que são movidos pela usura, mecanicamente apropriadores do que é de todos pelos mecanismo da mais valia, da exploração astuta (fraudulenta) dos negócios, que, como autômatos, acumulam lucros e excessos de recursos monetários, enjaulados nos índices Forbes, ainda não completaram o processo de hominização, alcançando o estágio final humano, e se acumulam animalmente bens – e arrancam-nos dos outros- é que ainda temem morrer de fome).
Se as pessoas não conseguem dizer, relatar, demonstrar, externar, visibilizar (viabilizando) o que a imaginação vê, estacionam, não progridem (humanamente) na escala animal. Geralmente, o “homo” usurário ou ente de alma bursátil (magnata amoedado) ainda não se desominizaram (ou seja, estão longe do processo de humanização definitiva).
A linguagem poética é a tradução, decifração, expressão do imaginário humano – e dos seus mais arcanos sentimentos – caminho de libertação de toda potência humanística do espírito do homem.
A cada momento, a luta da poesia é contra o passado (imediato), e é para não o temer – mais fazer – o futuro da linguagem e do sentimento não anacrônico, que a poesia concorre, existe. “Só tenho duas mãos e o sentimento do mundo”, de Drummond, é o mais eloquente anátema contra o sentimentalismo personalíssimo na poesia. A propósito, foram com esses versos que Miguel Arraes encerrou o discurso de posse nos idos de 1962, que ouvi, na TV primária de 20 polegadas (ou menos), preto no branco, imagem plena de ruídos e distorções, em minha casa (eu, com 17 anos), em Vertentes. Na ocasião, meu pai, do PSD, partido do meu tio Emídio Cavalcanti de Albuquerque, eleito deputado estadual, afirmou (e ouvi bem): esse discurso é coisa de Paulo Freire. A propósito, ainda, fui numa comitiva visitar um correligionário do PSD, num distrito de Vertentes, juntamente com meu pai, tio Emídio, Arraes e outros.
Aquelas palavras de Drummond (ditas por Arraes encerrando o discurso de posse do 1º Governo) jamais saíram de mim (nunca deixaram de soar) e me fazem extático até hoje.
É lógico que não se pode ter os mesmos sentimentos ou reações sentimentais (românticas, na acepção vulgar normal), passivas, do passado, em pleno século 21.
A luta consistia em interromper ou sabotar a tradição lírica esclerosada, massificada, repetitiva. Renovar, reviver, fazer evoluir a linguagem literária. Até hoje, por exemplo, Machado de Assis é um deus (ex-machina), um absoluto, algo ilimitado, o que demonstra a incompetência dos nossos escritores (romancistas) que, (in)conscientemente aceitam chegar (beijar) (a) os pés (empoados) machadianos.