O que vai apagando a água vai escrevendo o fogo
Talvez simetria se corrompa
e exatos azuis se esfumacem
sob égide de rosas apressadas
Talvez na pausa das estrofes
e no intervalo das estrelas
pairem secretas inspirações
Talvez saudade se avolume
e se estilhace sono dos amantes
talvez desencanto seja doce
Talvez amor se sirva da vaidade
e da mais crua ilusão se ceve
talvez de uma perda se complete
Talvez serva do amor seja a tristeza
e o futuro apenas hipótese lenta
ou madeixa acantonada na memória surda
E mesmo que se consultem búzios e pássaros
cartas, efígies, sombras ou compassos
talvez o amor se consumasse no passado.