Existe um mosteiro lendário
(místico, bento, alto e
maior, mais leve, mais vivo que Xanadu)
muito além do poente
onde sol escave primeiros sulcos
para tenra iluminação total
dos seres e das coisas de Deus
onde a luz dos ângulos é crua
e fervor alto.
(Ele habita um sítio humano
que é quase um coração
e alicerça a pedra do perdão)
Depois da maior montanha (planalto da Borborema)
do pernambucano confim do agreste
(entre angelicais sais e
brancas seivas meridionais)
ele se posta num vale indelével
prenhe de rosas do jardim selvagem
sob copioso canto de cigarras
derramando-se sobre alumbrados
olhos do simples mortal poeta
onde orvalho é branco como anjo
e afaga face crua de cada humano
onde flores alimentam borboletas
com néctar irmão da ambrosia
onde moinhos de manás não cessam
nem se aposenta o perdão
onde ervas são graves
e sonhos apetecíveis
onde prélios que noturno vence adormeceram
e homens não mais se enciumaram
onde cigarras lixam vento pianíssimo
e pássaros oram em cântaros colorados
onde cada onde não se esconde
onde cada quando já é ontem