A nave da lua sangrava
céu francês
estava ébria com Rimbaud bebendo
das palavras licor áureo alquímico extrato
adornado de delírios legítimos (e francos)
mancomunado com o firmamento gaulês
enamorado do verbo navegava como louco
por paragens de palavras nunca vistas
(por barcos embriagados quilha em delírio)
incensos queimavam como pratas
moedas de colinas sua alma
sábio cristal dedilhava, canções
para o espírito e ouro encomendava a Deus
(porque satã de Baudelaire esgotara
seu estoque de metáforas).
Teus olhos vêm da luz
vão à sombra
vertristeza
olhar escombros
aumbral vazio
acodem dores solitárias
lábios da alba
mordem o amanhecer
do profundo futuro vêm andorinhas
trajandogerúndios dos ninhos passando
e montanhas aladas
em suas asas de pedra ou lata
o imarcescível mar ainda murmura
desde sempre sou água e sal da sílaba náufraga.