Que véu não ilude
ou fonte nunca seca
que barro amolda
(o nada e o grito)
que cimo não sonha
com céu ou o abismo
que poço d’água funda
não recolhe estrelas trânsfugas
(e do brilho molhado
não se extasia)
qual pássaro que
não ame cítara
e noite não ceve treva
que rio águas impeça
de correr ao mar
(que é morrer)
que lei proíba alma
de grunhir à lua?
Solitárias flautas presa
do jângal das sombras mudas
ou das selvagens cantatas da claridade
(das vorazes sonatas dos pássaros pendor)
flautas carnais de sons ósseos e cautos
de que derivam multidões de acordes
miríades harmônicas
flautas fuzilando gritos e fugas
redimidas canções
violinos azuis encelados
de sons agrários e óperas rurais
espoucando das harpas magistrais do tempo
increpando céus
e luas de agave consolando.
Ósseos tenores
rumores de prata
arreios
de áureos
tumultos de cobre
cobrindo o poema
da pátina macia
das canções alquímicas natais.
(A argutas percepções ofertados
acepipes poéticos
e outros lavores ilesos
além das safras ardentes das palavras
que insensatos sentidos endeusam).
Do êmbolo brilho ébrio
crótalo de vidro estranho
da amêndoa a carpo doce
hiato de papila úmida
sílaba de unguento longo
das flores de ferro
erótico cromatismo
vertigem lasciva
dos dedos ávidos (e úmidos)
dedilhando rósea vagina
da corbelha de palavras
flor de colibri do poema
do teu êxtase gozo aberto
de tua pálpebra fechando-se sono lascivo.
{jcomments on}