Aprendi a passar fome pela poesia.
Sede, jamais. Viva a Vodka
finlandesa, ébria como a poesia.
Lassos silêncios me decupam
e apunhalam o olvido.
Olha-me, grande lousa, os olhos
ainda vivos, e me reconhecerás
no absurdo cego da morte
entre boninas.
Haste e névoa, fome e voo
canto e sal, silêncio de missal
lábio sonegado, ósculo de flúor
beijo noturno abnegado
como míssil envenenado.
Rosas enflorando pássaros
úteros de maçãs
macias como o amanhecer.
Ao cárcer inconsciente.
À espessura do hieróglifo
dedico toda uma hermenêutica
e circular exegese prima.
A ermo ventre e terreno vou.
A meus brilhos náufragos.
A estribilhos sujos.
Ir ao divo ermo do id de volta.
Ao imaginário puro me dedico.
Arpejos de haras ocas
de frautas cínicas
de fêmures e lírios
escravizados.
Rosas chilreiam.
Aves florescem.
Néctar do voo alegre.
Febre de ser.
Processo do inconsciente.
Sumos divos.
Mártir e cárcer.
Geografias da paciência.
Extremos de tigres
Avaro rosário.
Amaro instante de não ser.
Tintas apagadas como o sopro.
Descarnar impróprio
do poema na palavra.
Do âmbito do Gólgata.
Poema desautomático autônomo.
Túneis cruzando com enigmas
breves vertigens, belas esfinges.
O silêncio do verbo em riste.
Todo o imaginário do desejo.
Toda a irmandade do verbo
a apregoar anjo na página
alma em lauda
a máscara da morte pulsa
amoras possuídas do travo de ser
manhãs abdominais abomino
cicatriz de margaridas
magnólias abruptas
portos abortando
Sócrates pedófilo.
Aristóteles adútero.
Fresco Parmênides
Heráclito macho.