O declinante tempo não apressa o poema
o verso virá do espaço da página
não das ilhas ridículas dos ritmos azuis
não dos limites de rios fraudulentos
ou de cômoros vulgares
sagrada é a página, não o homem
ali onde a vida recomeça é quando termino o poema
e lança-se o início da aba do outro
o que detém a inconsciência do homem é o verbo
a arte celestial da palavra exílio azul
o outono é uma virtude porque a pena entardece
e esplende o poema noturno com a manhã.
Quanto mais báquica seja a noite
e página mais manchada
quanto mais vinho se verta, rio escuro
quanto mais apresto ceve o verbo
mais alta a manhã e sagrado o sal vivo
quanto mais a audácia da poesia sol
mas o infinito estende-se sobre as palavras
paralelas do poema
quanto mais incubo o tempo na lauda
mais espouco a palavra alada
e o sangue a vera sacode
e o coração rebate os signos de outrora.