Pesadelo lírico, trêmulos sonhos adverbiais
demoníacas dionisíacas nada espartanas
visões de verbos delirando na clínica da página
assomos de frases mentais estranhas
bulas de palavras vertiginosas
ebulucionando o espírito
palavras descabeladas e impróprias
sulcando a página e a alma
signos do mar da lauda
navegando na garganta do símbolo
enlouquecido e apaziguado.
Pesadelo lírico, pústulas estalando
abcesso metafisico se instalando
na pele e no espírito do verbo
sulcando e rodeando alma vulnerável
veneráveis sombras (e luzes venéreas)
assomado à casa onde ou quando
o ser repouse da lida ordinária
em busca do conforto de dádiva generosa
dos augustos esforços comerciais
lento veneno ganhando foros
de cidade das veias teatro dos esgares pagos
e dos laboriosos corações perpétuos
em peleja contra o sentimento humano.
Pujante sono perto da morte
efervescendo como manhã anônima
endurecida pelos ateromas do lucro
e varrida pelas obesidades da usura
multiplicando-se como peste
as causas perdidas
os desânimos rendosos
as alegrias rentistas
os panarícios do tempo
no rosto dos dízimos e mentes absurdas.
Em cada dia, a derrota
do humano, em cada noite
a soberba e o prazer continuado
em cada lábio a lepra da hora
como baton tempestuoso
em cada um ser assessorado
a ser orado o dízimo caro.