03
Dom, Ago

Poemas
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I

Enquanto Kant arquiteta inocentes metafísicas

em seu vasto tugúrio e íntimo de Knisgberg

e se enovela nos elos da coisa em si

(anacrônico) Hegel viaja

pelos dédalos tortuosos do espírito absoluto

e se enreda nos pinos dos bemóis absurdos

e, na curva dos despojos dialéticos, Hegel

lautos goles do absoluto bebe

em copos austríacos belos

e se derrama nos ébrios bojos

dos estados metafísicos da alma

e intrincados silogismos esmaga... ou assume.

 

II

Eco se indaga (como um espelho à cara):

o que tem Kant a ver com ornitorrincos nus?

Nada!?

Pois Kant estudava somente rinocerontes selváticos.

Se tivesse a ver com ornitorrincos

Kant teria escrito coisas noumenais

graças a sua ética devotada ao mar

ensaiou sobre as praias da Austrália

ou algo sobre a paz perpétua e molhada

de um simples e simpático hipopótamo herbário.

Incoerência que soam como cubos ou vige

em homenagem a antiquíssimas enciclopédias

ainda jovem China (de índole borguesiana).

 

Lembro que os bestiários de Borges

não eram inóspitos e que alguns

jazem sobre aquários ou obituários

sob insolência de olhares ambíguos.

 

A realidade apodítica

é que, se Kant era obcecado

pela vulva de camareiras, não interessa

à poesia.

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Murilo Gun

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