I
Enquanto Kant arquiteta inocentes metafísicas
em seu vasto tugúrio e íntimo de Knisgberg
e se enovela nos elos da coisa em si
(anacrônico) Hegel viaja
pelos dédalos tortuosos do espírito absoluto
e se enreda nos pinos dos bemóis absurdos
e, na curva dos despojos dialéticos, Hegel
lautos goles do absoluto bebe
em copos austríacos belos
e se derrama nos ébrios bojos
dos estados metafísicos da alma
e intrincados silogismos esmaga... ou assume.
II
Eco se indaga (como um espelho à cara):
o que tem Kant a ver com ornitorrincos nus?
Nada!?
Pois Kant estudava somente rinocerontes selváticos.
Se tivesse a ver com ornitorrincos
Kant teria escrito coisas noumenais
graças a sua ética devotada ao mar
ensaiou sobre as praias da Austrália
ou algo sobre a paz perpétua e molhada
de um simples e simpático hipopótamo herbário.
Incoerência que soam como cubos ou vige
em homenagem a antiquíssimas enciclopédias
ainda jovem China (de índole borguesiana).
Lembro que os bestiários de Borges
não eram inóspitos e que alguns
jazem sobre aquários ou obituários
sob insolência de olhares ambíguos.
A realidade apodítica
é que, se Kant era obcecado
pela vulva de camareiras, não interessa
à poesia.
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