(A lâmpada de Holderlin desnuda
a lauda
o revólver de Breton rende
o poema)
Lâmpada de argila
lúmen de abelha
Candeia de brisa
itinerário de água
Seda de sargaço
bordado de beira-mar
O poema cavalga o ar marítimo
o tropel das espumas é a face de Deus
ondas parecem escamas brancas
de peixes enovelados no brilho das estrelas
a leveza do verso busca o lustre da areia
rima lua com preamar de aveia
(vá à branca luz do sol que arpeja
peregrino das calçadas de Boa Viagem
leitora devoradora que linha a linha especula
com a cútis da palavra e se apega sempre
à intranscendente passagem do verbo presa
fácil da página e do seu sol negro)
(leitora astuta que aniquila romantismos
e rebarbas condoreiras do campo da palavra poesia)
Lâmpada de Holderlin incandeia
tudo o que a poesia proclame:
rumor a paquiderme grassa
no leito deserto do poema
grito e jângal habitam
a estrofe visionária
lua inclinada sobre juncos
filtro das flores bêbado
casulos de pedra chorando
gerúndios abandonados
o fôlego das palavras cobrando
caminhos para extravagar a voragem
solidão de néon e catraca
harmonia de amar estátua
cinza movediça e alada
no cotonifício do mar baila.