(Confissões do poeta)
A soliloquiar voo, pássaro sutil
de canto inclinado ao levante
ave de grito debruçado no lenho do poente
em mim mesmo me ensimesmo.
O que não sou é o que (não) sabes
oprimente leitora, dona absoluta e impiedosa
da palavra devoradora e proprietária do sentido.
Contrito me deparo com o infinito
e se já não sou o que digo o ego oxido, jugulo
o logo(s), fundo delíquio me golpeia, aterra-
me súbito pasmo, o sega me decepa
mas resisto até o último hemistíquio
até o próximo capítulo da rosa resisto
ululo como as libélulas pendulam
sob a vaga lua que crisântemo aclara
(minha voz eco cristalino dilacera
se as pausas não demoram no enquanto moro)
leio enquanto intervalo dura ou pássaro
do poema ondula ou algazarra da gangorra atura
alegorio uma mulher vestida de nu (a Clizia de Montale).
Enquanto silaba o vento no eucalipto cochilo
(o cachecol acalenta a jugular enquanto)
me ensarilho na seda do apuro
na captura da manteiga me amacio
na pausa do hexâmetro durmo
enquanto empedernida rima eco me alcandora.
Enquanto eu soliloquio tu coloquias
a hexametrar linhas me dedico
como a um suplício.