Sabia do defeito original do poeta ao versejar descrevendo coisas, objetos, sensações e sentimentos.
Combatia, porém sabia também que atavicamente – em termo de linhagem literária – eles - (os tais poetas do meu (mau) tempo – apenas reagiam à concepção de linguagem como representação e mesmo cópia da realidade, que era o parâmetro do complexo linguagem mundo ideologicamente dominante.
A relação linguagem com as coisas, desde os gregos e linguistas alemães, era estabelecida com um ranço de platonismo: ideia e imagem. Era a teoria pictórica (imagética) da linguagem.
Desde o segundo Wittgenstein que essa coisa desandou.
A linguagem estabelece, com as coisas do mundo, do si, da sociedade, relações muito mais complexas do que uma relação tipo representativa ou substitutiva (copiativa) apenas.
Não é a função representativa da linguagem que atende às operações cognitivas. Normais ou esperadas. Os usos de uma palavra têm sentidos inusitados, variáveis, mesmo impensáveis e aparentemente distorcidos. É da natureza da palavra a sinuosidade do sentido, o disfarce, a ocultação, a ambiguidade assumida.
E o que é o poema absoluto (insensato ou insensível como se apoda) se não grave, plena, profunda e vital distorção verbal em ato operatório na página e na alma?
E a linguagem utilizada num poema difere da de outro poema sequencial do mesmo livro. Eis a mágica.
O que fica crítico é a relação dualista, metafísica (não dialética), lógica, definida e definitiva, que a linguagem detinha em relação ao mundo (coisas, seres, objetos, acontecimentos). E tal adequação do pensamento (via linguagem) e o mundo representava a verdade (desde o tomismo definitivamente).
O que embasa o poema absoluto é a neurociência, hoje. O cérebro não representa passivamente aspectos da realidade externa internalizando-os ou projetando-se naqueles. Porém, registra neuronalmente todo o universo do contato sem auxílio de nenhuma sintaxe externa ou gramática representacional, como um cego a explorar o tato dos fatos.
O poema absoluto é do âmbito neuronal, neuroverbal. Ou neuroverbário.
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