(aos filhos Cláudio Netto e Murillo Gun)
Sete poemas para o neto (ainda no útero do futuro)
longe da dor do real, da angústia viva
distante ainda dos percalços e das lacunas
dos emolumentos da culpa em riste
da indigna realidade distante ainda.
Feto e uivo, urdume e lampejo, oração e usura
hino e tâmara, vinho e gema, claridade nua
tudo do extraviado fóssil do futuro trago
à luz desse labirinto esgotado, eneágono ponteagudo.
Bisão rigoroso paste silo ávido do horizonte
cardume de sombras embriague páramo inocente.
Bosque doloso (irresponsável ante o homem, seu senhor
que conserva com virulência seus pássaros e ramagens).
Silêncio virulento apressado rumor rompe
(e cálido grito corrompe).
Da borda da entranha medito, perscruto
a têmpora do poema, o sacrifício.
Poeta desce úmidos degraus da palavra
(escorregadia, sentida, teatral, adjetiva)
segue escada onde terminava o anjo
aproxima fontes, toma partido do lume baldio
e das facções das coisas (que o escuro do mundo não perdoa)
à borda respirável ainda recosta rosto desesperado (cinza)
e antes de encarar o poema olha a beira do abismo rútila, brilha
a borda do relâmpago que respira fagulhas.
(relâmpago que o poeta sonega
à alegria da claridade do poema).