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Dom, Abr

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                A imutabilidade da linguagem, a conservação da gramática, a manutenção (eterna, embora provisória) da forma (a mesma), a repetição (o ídolo), tudo leva à mesmice da poesia brasileira atual.

É que imutando-se a linguagem (conservando-se a forma poética passada estéril) se mantém o mundo, dá-se estabilidade às coisas (nossas e do mundo, de nosso mundo: o que mais vale?).

                Aí, esses poetas loucos, querendo conturbar a normalidade, alterar hábitos de poetação e leitura, da criação e recepção, porque não têm nada a fazer – e não aprenderam a sonetar, ficam por aí dizendo besteiras, pregando o novo quando o velho é razoável. E não causa inquietação. Todo mundo, todo poeta é igual, no soneto. O soneto é democrático. E genérico. O que mais?

                É defesa instintiva de classe, de hierarquia, conhecimento, controle, evitação de novidade novidadeira, convulsão. O atraso da linguagem causa regressão no pensamento. E o pensamento literário brasileiro está fundeado (afundando, dir-se-ia melhor) em Bilac, Castro Alves e Machado de Assis. A tríade ainda moderna. E revolucionária, ainda.

                Regressão é o signo da permanência. Criação é evolução, inovação é perigoso. Nada de novidade. O novo naufraga o velho. E se tudo aderna, o soneto se lasca.

                Congelar na tradição, abortar o novo, repelir o que venha, impedir o brotar da poesia em novas formas e estruturas é pleno reacionarismo estético (e até político-social, porque representa uma diminuição de civilização (brasileira).

                Estancou-se, no Brasil, como regra geral, a evolução das formas. O temor de abandonar o soneto era quase litúrgico. A religião bilaqueana, o papa eterno, era primorosa e afetou a nossa “intelligentzia”. A invenção em segundo plano, diria Pound.

Murilo Gun

 
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