03
Dom, Ago

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Tudo dependia de um fio expressivo

de uma catilinária precisa e indolor

ou mero assédio de horror... para

que tudo se desviasse do texto de mim e

de um átimo se desprendesse o tempo

inaproveitado por ti, escrita surda com um

cego ângulo a narrar do fim no fio assim laminarmente

da espessura de um instante perturbado

por uma insanidade ciente e dedicada e delicada

a seu sinuoso distúrbio que ensarilha o espírito

de modo a verter em cada obelisco de pombo

a quantidade enfim... e entediar o não branco

como se a lousa não importasse

com a vida que pulula no escombro então

de um espelho maculado brotasse

enxames de ovelhas degoladas a verter

sangue de cordeiro sacrificado ao tempo

esse irrazoável senhor do espaço limitado

para que firme e indevassável mas deformável

momento que se perpetuasse sem limites ou sítios de tempo

como são os instantes que os átimos realizam

em seu potencial de trânsito impecável.

Atro espectro de si a ser se saiu

do cofre da morte como poema último

para se ter subtraído do espasmo primeiro da

mônada que criou a ameba e o intervalo do cerne

que deforma a agrega contornos

brancos ao susto de ser e ver o surto

da vida viver como se obstruísse o sim

de modo a prever a cisma do início

ou o cismo que faz brilhar a vida no fim

com o respaldo do Senhor ou o rescaldo

do apocalipse da carne. Então...

fiel fiei teia de aço irrevogável e cívico

em tear de tempo oblongo como que

confiando na injustiça provisória

(de Anaximandro) ou na ânsia de ser único e no

instinto republicano sobrevivente mas possível

de extinguir-se como dinossauro ou ideal

que se impusesse ao sereno da morte

mas o brilho do estribilho me cegou

o ser e nunca mais amainou

e a sina perdeu-se no vórtice sinuoso

amarelo do boi de carga esfacelada cujas órbitas

ósseas cercas do sertão aprimoraram tornando-se

símbolo do flagelo da espoliação firme do bucólico campônio

embora símbolo dubitável e insidiosa farsa capaz sim

de render bandeiras covardes ou azuis

como ovos de treva (de galinhas simpáticas mortas)

à expensa do ser... assim mereci

ser louvado no paço e velado

como conde decapitado três vezes

ou rei destronado insone e insano

 

que me flagra a escritura

perversa prorrompendo peremptoriamente

sóbrio lamento num caso ablativo sujeito

a cometer ordenações cruas

mas incisivas ou punições masoquistas

incompletas destinadas ao pleno e turvo

embelezamento da alma ou concebíveis

extrações a cru dos incensos do espírito

de forma a pôr em relevo desleal

as visões não preclaras mais inúteis a

relevar velos e alvéolos, lumes e seivas

além de ocasos secretos  mas sinceros

do âmbito malsinado do verbo

rebelado e da palavra enlouquecida

a partir de aspectos fungíveis ou de

espectros incômodos de modo a empreender

quebrações sutis ou não sobre o edifício

de cacos de vitrais vermelhos como salmos

ou lavouras góticas de sementes oblongas

tudo sob belvedere verde de féretros

em desfiles cercados de consolos enfileirados

por grandes palavras inconsoladoras prenhes de atra sinceridade

no instinto do ato cru de inumar o homem

expondo o cadáver humano a novos e discutíveis

vermes cujas ansiosas mandíbulas macias urgiam em riste.

Inúmera visão assoma à pena:

como aperfeiçoar açougue para

beneficiar cortumes cientes de que

a consciência é fungível como couraça de aço, porém

ciente de que o quando não demora

de que o onde não se sabe onde se encontra

de que o enquanto é ainda portanto

e que nada suporta verdades domésticas

prováveis embora geradas

das circunstâncias esquizofrênicas do eu... esse idiota.

 

Dizem que esse texto foi encontrado numa mesa do passado.

 

Insuportáveis mas igualmente insanos são

os dissídios filosóficos amarelos amargos

ou questões inadiáveis como alimentar

bodes expiatórios com gorduras rituais, divos lipídios

rações sacrificiais exatas ou poções de vastas mandingas

como afiar cutelos para sacrifícios dos

últimos cordeiros e prodigalizar bem

a indústria de decepar sem piedade carne e alma

além de reverberar a maldade ínsita

sobre coisas incólumes, missas brancas ou meio polutas

e desprezos brilhantes com empenho

indubitável ou seguir ao pé do espírito

o programa da destruição do si assim

transpondo intranscendentes ilimites

ferozes e fronteiras impúberes sobretudo

de modo a preservar ossadas de dilúvios

secos e áridas torrentes de sumos

pacíficos triturados como pães ázimos

tudo sob manto do bem em fuga do âmbito

da luta para desconstruir o impávido

vício de ser iníquo sempre

a desabominar certezas infantis

ou a desabonar as veias sérias da vida.

Fala de malestares crescendo

como inflamação do espírito

a acirrar momentos de perturbação

da alma inglória, o corrupto despeito

de Deus no íntimo do tíbio ânimo do homem

apenas habitat para trilhões de micróbios do bem

(probióticos que conformam a biota da vida)

homem firme como pântano a indicar

estado lúgubre e pasmo do lodo

embebendo estrelas virulentas e rápidas

como sequelas de tormento...

ou relâmpagos cegos tateando matilhas

de brilhos desnudos ou fornalhas de sal

abrigando partitura cálidas embora mudas

ou ocos dissimulando brechas de som

parecendo córrego sonolentos agudizados por mantos de cimento.

 

Ao transcurso ou perda de mim entre meses indomáveis ou

messes sem data lembro o lar em construção e o vago vezo

imperdível de manteiga transcendente

iluminando pão francês quente e belo

e ele debruçando o maxilar

e a língua em êxtase sobre Um estudo

em vermelho (Conan D.) sob louvor da alvenaria

momentos virtuosos e alimentícios em que

êxtase se perpetuava e catarse

penetrava a alma como trave de carne configurando o futuro

em que livros publicados sobrepunham-se

a bíblias de incautos quando o vigor da aura

projetava a perfeição e o dolo

e movia o oceano de si contra o rio morto de outubro

ou do outro que o inferno nos legou.

No fim do capítulo, a volúpia falou

defeitos sucumbiram como surpresas

fervilhou o texto como abelha

o verão da dor foi-se com a morte do outro

e a paternidade inferno tornou-se duvidosa...

{jcomments on}

Murilo Gun

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