A poesia que se decifra na paixão pela palavra também se exprime no prélio entre cristal e chama,
entre diadema e pássaro, escolha ou luta a que poetas dedicam a vida, a dúvida, o ânimo, a alma, o sonho, as horas e o sangue.
Poetas como Valéry, Wallace Stevens, Gottfried Benn, Drummond, Fernando Pessoa, Jorge Guillén, Ítalo Calvino, Murilo Mendes, Jorge Luís Borges, Juan Ramón Jimenez tiveram como emblema o cristal, a transparência expectante, luxuriosa, cardinal, sobretudo mística, que o cristal encerra, conota, indica, consiste, que o cristal, ao pulsar, incorpora e aveluda ou alumia, tornando transcendentes e quase absolutos textos minerais e primais desses criadores da beleza verbal.
O cristal que contém facetado poder de refratar luz e invariar a fé na beleza é emblemático do poder descomunal que a palavra dá a estes homens por ela eleitos para alto ofício da poesia, para alto sacrifício da paixão pela palavra.
Eleitos são poetas que incólumes atravessam séculos e a estes ilustram com o poder apaixonante do verbo.
Na chama, temos a ordem do rumor, a volúpia geométrica da agitação, do vibrar púrpuro, palpitação fractal, incêndio líquido e extremo.
Entre chama e cristal, explode o verbo, vige a palavra plena de paixão, o rito amoroso, vértice de verbo e fogo, que queima e sagra, abismos de luz que abeiram céus e horizontes.
Aqui, chamo à colação, chamas poéticas permanentes, como Valéry, Rimbaud, Mallarmé, para expor as respectivas paixões pela Palavra.
Em Mallarmé, a palavra vai ao acme da exatidão, apalpando a extremidade da abstração e elegendo o nada como a substância última do mundo, Nele, a palavra jamais será meio, mas finalidade absoluta, paixão verbal, renovada, viva, impetuosa sempre.
Mallarmé, poeta – quase perfeito – , que se ombreia entre os máximos poetas do universo, cuja paixão pela palavra fez dele arquétipo do poeta amoroso, no sentido lato, absoluto.
Rimbaud, a essência da poesia, invicto lavrador do verbo absoluto, cujo silêncio eloquente ecoa pelos séculos afora, ressoa de modo pleno e atual no terceiro milênio (vide R. Generoso).
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