É isenta de forma (fixa), é metamorfose ou disforme, tem a forma por vir, é proteútida (como Proteu, adquire a forma que lhe sirva). Renuncia ou desdenha dos princípios que norteiam a poesia bem comportada do superego.
Por isso é anárquica, maleducada, brusca, um pouco má até, inconveniente sim, para milhões de leitores não habituados com as baboseiras prosaicas de sempre (arrumadinhos de rima, faciitário do entendimento, capricho métrico (o ábaco sempre repreendendo o espírito e calculando as medidas da página combatendo a desmesura e o pé quebrado, pois a clínica ortopédica da palavra fecha nas emergências).
(A fantasia, imaginação retém uma verdade
incompatível com a razão).
(Toda desmesura não será castigada).
Indiferente às peripécias do tempo, independe dele para viver, como também não depende do verbo perfeito ou imperfeito. Abre mão de qualquer coerência horária, é desorária por natureza.
Alimenta-se de contradições, choques de palavras saltos de qualidade filológicos, lacunas, interrupções da sintaxe – e mesmo de apagões gramaticais (que a esclarecem e muito).
O bem e o mal para ela (a poesia moderna) são valores ineptos, arcaicos, confusos, senão inconvenientes, imaturos.
A moralidade métrica ou burguesa (ou proletária, petista, oficial etc) não a interessa em nada. Nem perturba ou desperta.
Não precisa de preservativos para autopreservar-se.
É a poesia do instinto primário da palavra.
Vem do mais fundo abisso do verbo.