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Dom, Ago

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É isenta de forma (fixa), é metamorfose ou disforme, tem a forma por vir, é proteútida (como Proteu, adquire a forma que lhe sirva). Renuncia ou desdenha dos princípios que norteiam a poesia bem comportada do superego.

Por isso é anárquica, maleducada, brusca, um pouco má até, inconveniente sim, para milhões de leitores não habituados com as baboseiras prosaicas de sempre (arrumadinhos de rima, faciitário do entendimento, capricho métrico (o ábaco sempre repreendendo o espírito e calculando as medidas da página combatendo a desmesura e o pé quebrado, pois a clínica ortopédica da palavra fecha nas emergências).

(A fantasia, imaginação retém uma verdade

incompatível com a razão). 

(Toda desmesura não será castigada).

Indiferente às peripécias do tempo, independe dele para viver, como também não depende do verbo perfeito ou imperfeito. Abre mão de qualquer coerência horária, é desorária por natureza.

Alimenta-se de contradições, choques de palavras saltos de qualidade filológicos, lacunas, interrupções da sintaxe – e mesmo de apagões gramaticais (que a esclarecem e muito).

O bem e o mal para ela (a poesia moderna) são valores ineptos, arcaicos, confusos, senão inconvenientes, imaturos.

A moralidade métrica ou burguesa (ou proletária, petista, oficial etc) não a interessa em nada. Nem perturba ou desperta.

Não precisa de preservativos para autopreservar-se.

É a poesia do instinto primário da palavra.

Vem do mais fundo abisso do verbo.

Murilo Gun

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