Trêmulo orvalho do lábio macule
carmim do amor, ascenda
(como seiva violada)
a olhos calados o rio da palavra
(pelo queixo escorra)
em confronto à lágrima que desça
ou luz que rasteje no rosto fluindo
dos vãos da manhã errante
e nos prados do peito ancore
(como navio cego perdido na noite pássaro)
coro de sombra, canção salobra.
Nave da arca submersa busque
abrigo no calor que supra o sangue.
Dos fios enevoados do olhar
se levante o sol sem pálpebra.
Das partituras do sal, do cio amontoado no grito
o silêncio erga seu morto clamor.
(Sei que te teus olhos brotam
infiel leitora
manhãs indomáveis
inadiáveis clareiras
em ti cantem).