Aromas da alma se dessedentam
nos sulcos que suor cria na pele
amparam-se no rictus da saliva
ou nas corredeiras livres do sêmen.
Perfumes noturnos escorrem dos seios da sombra
para o meio-dia, auge do pântano da luz
para as vozes do século (gargantas da usura)
as vogais do tempo lavam o árido
quando enlouquecem palavras
e imagens náufragas se levantam
contra férrea aurora.
Contra olhos da sede, contra
pálpebras da incúria
ou lodos da decência.
Mãos absortas do vazio adivinham a náusea
que nas veias cotidianas grassam.
No silêncio a libido eleva o brado
e retumba o desejo nos intervalos da culpa.
Nos castelos da praia, nas folhas da relva
nos destinos da proa, na cavilha da quilha
no poente dos corpos cercado de estertores
e velas que rescendem a jardins putrefatos
ou afogam-se no odor das flores funerárias
o poema prepara o salto perverso
o bote ofídico na inocência da página.
Sobrevive um último verso, heróico e inútil:
resta o desejo noturno, estanque desesperado (humano).