02
Sáb, Ago

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          A segunda geração modernista, aquela que apurou, refinou, consolidou a revolução estético-literária de 1922, a Geração 1930, revelou os principais poetas brasileiros do século XX.

Saíram desse útero temporal uma gama esplêndida. Foi a mais espetacular, mesmo sublime, geração de sobrepoetas, de nomes que honram não só o Brasil, mas a América e toda a urbe.

            Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Murilo Mendes, Jorge de Lima são os poetas basais da Geração 30. A eles ascendeu, por sua genialidade e sublimidade, Manuel Bandeira, e descendeu, por quantos motivos queiramos alegar, João Cabral de Melo Neto. Até hoje (2013), nenhum poeta brasileiro é capaz de ombreá-los. O que demonstra o nível de atraso, o desnível alcançado pela poesia brasileira, após (e começado por) a Geração (famigerada) 45.

             A terceira geração (ou melhor, degeneração) modernista (?), de 1945, foi o marco inicial do atraso. Da reação aos modernismos brasileiros. Sepulcro da fonte de 22. Túmulo da modernidade poética. Início da ditadura de forma única. Regressiva. Oca. Reacionária.                              Desde 1930 até 1945, ocorreu um largo período ditatorial. Que a guerra (a 2ª grande guerra com a vitória aliada contra o primeiro eixo alemão) não abalou. Pois a democracia brasileira (redemocratização) não se consolidou. Primeiro, tivemos um general presidente (Dutra), depois, voltou o ditador-mor, Getúlio Vargas. A instabilidade continuou, levando Vargas ao suicídio. E ene episódios militares contra Juscelino Kubitschek e Goulart, redundou no golpe militar de 64 (que durou outros 15 anos e ainda arrastou-se estendendo-se moribundamente com a eleição indireta de Sarney ( o presidente da malfadada ARENA), que aguentamos por 6 anos e ainda nos impingiram o mais malfadado ainda (e cocahínico) Collor.

             Imagine essa conturbada situação antidemocrata e sua repercussão na literatura (poética, porque a prosa é mais resistente).

            As transformações político-econômico-sociais, de certa forma e claudicantemente, foram positivas (mesmo arrastadas sobre antidemocráticas resistências), no bojo de tempo meio liberal aberto de 1945 em diante. No entanto, o espírito reacionário prosperou. Literatos (antidemocráticos) aproveitaram o renascer de um novo tempo (a partir de 1945) e golpearam impiedosamente (sequestraram) a modernidade poética brasileira. À geração absolutamente moderna de 1930 (vinda de um segundo modernismo poético autenticamente brasileiro, sem dever nada a nenhum ismo) incorrespondeu uma bátega de sonetistas, nostálgicos da era bilaqueana, que inaugurou o atraso, desviou-nos da poesia moderna, pela implantação (ou revivescência do velho Parnaso) do neoparnasianismo, que até hoje impera, absoluto.

            Na prosa, a geração vital, a veia real, constelou nomes formidáveis como Lispector, Amado, Graciliano Ramos, Zé Lins, Guimarães Rosa. Mas toda essa constelação grande cujas estrelas principais são estes romancistas não foi capaz de desentronizar Machado. O eixo (ou aliança) Bilac/Machado foi vital para o império neoparnasiano, ofuscando todos e evitando que a prosa (e também a poesia, isto é, a literatura) brasileira se autonomizasse. Todos somos somente e apenas descendentes (herdeiros maiores ou menores) de Bilac e Machado de Assis. Por isso, é-nos negado prêmios universais (como o Nobel): somos dependentes do mito monolítico (monocórdico) e já meio monótono machadiano.

            Portanto, da poesia precipitou-se o atraso que nos levou tristemente a um buraco negro sem horizontes, desde os anos 50 do século XX. Tornamo-nos, a nível mundial, um enclave sonetístico invencível, câncer que se espraiou por toda a poesia brasileira há 70 anos. E vai durar. Esperamos estabelecer um limite: 2022. Para que se retome o caminho perdido e retire-se o atraso de tantas gerações sonetiníticas. Espere-se que esse indesenvolvimento não chegue a 100 anos.

            A famigerada geração 45 veio trazer o atraso (em relação à 1922 e 1930). A direção progressista (o eixo 22 e 30) foi alterada, invertida. Todas as conquistas da verdadeira revolução modernista de 1922, que a geração de 1930 consolidou, apurou, autenticou, foram jogadas no lixo, na vala comum, no jazigo do parnasianismo, que ave fênix reacionária se ergueu das velhas e podres cinzas e voou. Voa até hoje.

            Registre-se o espasmo dos atrasados ismos brasileiros (quando os ismos nascidos no berço do século XX todos já morreram), a partir de 1956 (e liderados por membros mais jovens da Geração 45), que duraram, se muito, 20 anos (o tempo da ditadura) e deram com os burros n'água.

Murilo Gun

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