Forçando um pouco, mas com a intenção de criar um marco (no começo do século XX), podemos situar, no finalzinho do século XIX, o início das megalópoles (em termos de edificações, ostensiva riqueza, pobreza aberta, periferias miseráveis, população em excesso, violência, indústrias estabelecidas no perímetro urbano, e tudo que daí, desse megacaos, derive): Londres, Nova Iorque, Paris, Berlim.
Stadler foi um dos que, como poeta, depositou suas esperanças todas na humanidade, na natureza humana. Não deixou sobrar nada para investir no objeto.
Em contraposição a seu humanismo já depauperado pelos (ar)rasantes avanços da indústria tornados padrão e exemplo em início do século XX; como protesto a essa situação anômala e antihumana que percebeu, alicerçou seus poemas na visão apocalíptica das megalópoles, como Emile Verhaeren, Trakl, YvanGoll, Keym e Eliot (de quem foram contemporâneos, de The Waste Land) o fizeram, todos movidos pelo mesmo espanto, pela mesma reação a tal estado recente de expansão urbana degenerada.
Fragmentos de outro poema de Stadler (Diálogo):
“Deus meu, a Ti rendo-me, imploro tua mão, tremo
ajoelho-me ante o sal de Teu umbral
olha-me extraviado na vida
ante o ímpeto devastador do desconhecido (que me ama?)
ante tantos maduros caminhos
que não me conduzem a Ti, a Tua casa final
a Teus jardins de refúgio (onde a vida me encontra afinal)
perambulo como sombra, fantasma, traste de carne solitária.
O barco da vida que de manhã
destroça sua quilha agora
contra os abrolhos ébrios da sina
catástrofe nupcial se anuncia
instrumento eu era da melancolia
fruto da obscuridade de meu dia.
( ... )
Dor e prazer desde sempre encerrados em mim
como em um cofre inacessível a Ti
e não há nada do que foi e será
que não haja sido Teu
sempre.”