à Igreja nova de Francisco
Monges de seda rezam
nos palácios de louça
orações de nácar
a deuses de açucena
espargindo brandos gestos
e preces de marfim
nos ares bentos
da província alta
onde se instale mosteiro bento.
Monges de alecrim pedem
dolce vita e reis de hortelã
e seus impérios mascavos
cortados por luas de saliva
avenidas de fraque amaro
e ruas de cartola pura.
Párocos de luz transportam
potes de treva em cavalos líquidos.
Cônegos de água nutrem
o barro dos ditirambos.
Potros de pedra galopam sobre núpcias
sob auspícios de tempestades de jade.
Prelados de fogo tangem
prole da treva para os longes
oblíquos da tarde que consome
entre tragos de sangue e tangos argentinos.
Presbíteros de azeite benzem
coxas da terra com sêmens latinos.
Do celeiro de laureis ortodoxos diáconos
de platina ungem dádivas ladinas.
Potros de sombra e intervalo com rijas crinas carregam
com alguidares de hóstias no dorso rápido.
Párocos transportam lustres com que iluminam
os madrigais de alvenaria do púlpito
de onde lançam razias de rezas sobre
vítimas pecadoras em lances salvíficos.
Cardeais de grito agarram silêncio rubro
de seus paramentos escuros
e se organizam em cúrias velozes
para expor suas incúrias ao medo do mundo.
Adegas de vinho ímpio ocupam
átrio de sacristias
e orgias às escâncaras escorrem
sob naves lúbricas da igreja antiga