Gosto de mocinhas macias
de calcinhas de úmidas moçoilas
para refrigério das narinas (lascivas)
gosto de paragens comedidas
pentelhos soluçantes
invernos suportáveis
imitações da realidade fiéis
e apoteoses infernais
além de Nova Iorque nevada
maçã polvilhada de capuchos dentais
de neve falsa bailando
dentro de vidritos agitados
gosto de todos os fragmentos
de pessoas impossíveis
desejos gratuitos
sapos, ágios, príncipes.
Gosto de objetos rituais
de exílios do tempo e pecíolos de antúrios.
De calecionadores de bisquís amarelos
e suvenires de louça francesa
de poemas gravados nas unhas das leitoras
ou em dois grãos de arroz.
Gosto do sabor de gravuras japonesas demanhazinha.
Gosto de tulipas, talismãs líricos e utopias bruscas flamengas
além de aparatos de pesar almas
para medir pecados (com metros violentos)
gosto de significados vazios cheios
de azuis indolentes.
Gosto de descampados montanhosos
charretes e riachos
e de coqueirais em outubro.
Gosto de verões insaciáveis
e cópulas no fim da tarde.
Gosto de Garanhuns e do Retiro
das Águias indomáveis de Rodrigues.