Meditam velhas tumbas
sob ósseo silêncio de mortos
sobre limo fugaz
sobre lodo da dor jaz
poeta e sua hora aviltada.
poeta e sua terra desolada.
Desertos ossos inumados
de mortos antigos abandonando o pó
jazem à flor do chão
vagam obliterados
pela incúria dos vivos
a desprezo do descaso.
(Baudelaire dizia: Progresso
se mede não pelo aumento
de lâmpadas a gás de Paris
mas pela diminuição das marcas
do pecado original na alma francesa).
Levaram putas a Elêusis
sentaram cadáveres no banquete de Platão
jogaram testículos0 de papas no Tibre
iluminaram coitos noturnos com piras de cadáveres
vísceras dos escravos glorificaram
a mando da usura
(em nome do Progresso
a pedido do Destino).
No Foro ergueram canil de ouro
para cadela sarnenta do Êxito.
Sim, íncubos súditos, súcubos íntimos
súbitos glorificam ao Nada, oficiam
no santuário nu, na ágora pudica se picam periquitos
e porcos fuçam cabelos de Diotima.
Não, o poema é de mostarda e de lentilha
de abelha o rosto da estrofe
de baunilha o aroma da rima
tema a queda dos homens
das latrinas elegantes de Nova Iorque
ou nos amarelos prostíbulos de Amsterdã.