ao absoluto Platão
Não morrerei em Paris
numa quarta-feira de cruéis cinzas.
Nem nevoeiros londrinos
abandonarão meu olhar.
Espúria lágrima acantonada numa tulipa
ou ursinho assassinado com peixeiras de pelúcia.
Sobre abutres movediços espalho cinzas nuas
gotas de carniça ou rio de chorume.
Depilo cervos e lapido
hímens de corvos com absinto.
Uivos decapitados, lentes demolidas
igrejas desgraçadas, rotas rotas.
Em nome de desgraças profetas
demolem gaivotas.
À libido do juízo final ofereço
rotos hímens e prepúcios frágeis.
A régias luxúrias
volúpias proféticas.
Acasos voluptuosos
devam ser aproveitados?
Eloquente falo
triunfo oral de Príapo.
Mugem tempestades de lobos
uivam selvagens ventos.
Vênus ama Adônis devota e
finitamente. Até mesmo oceanos amam.
Ferro ama flores
como ferrugem água.
Amor servo da loucura, ferreiro errante
eros politicável, inato engano.
Mamilos hóstia cor de êxtase:
é possível ler estes dísticos dormindo.
Croce somente encontrou-se
na embriaguez das visões eróticas estéticas.
Cobre dos prepúcios afugentam
cotonifícios sinuosos.
Amo sombras e auroras úmidas amo
manhã lasciva e meio-dia de solidão.
A inocência não tem sentido
por que poema o teria?
No jardim noturno abraço joelhos do orvalho.
E abato abeto do adro defronte.
Hálito tênue de estrelas olho
colho luz de seus altos dentes.
Bebo lírio do prado trêmulo
tribo de água que temporal aguarda.
É presto Éolo que sopra
sobre domingos.
Sinto carícias de quatro
e bêbedos violões gritando a meu retrato.
Frágil seiva de lua bebo no teu rosto nu
quando rumor de perfume renda a pele lívida.
Eco bebe vértebras ocas
vento bole flautas.
De que vale íntima roupa
se a despes logo?
Incinerar cinzas é preciso
nesse mundo de umidades excessivas.
Jazigos feitos de ossos
e nazistas a cavar fossos.
Ecumênicos em ereção
tirsos em decúbito venal.
Aos carvões do apocalipse dedico
sílabas adamantinas.
Homenageio a janela de Januária
personagem imortal de Chico Buarque.