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Dom, Ago

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         A questão crucial do ritmo poético  (que se confunde com o metro e  rima)  é explicitada  e  resolvida por Octavio Paz.

        “O poema apresenta-se como um círculo ou uma esfera: algo que se fecha sobre si mesmo, universo auto-suficiente (autônomo não automático) e no qual o fim é também um princípio que volta, se repete e se recria (cria cria). E esta constante repetição e recriação não é senão o ritmo, maré que vai e que vem, que cai e levanta.” (como o sol e a lua). O ritmo, pelo contrário, jamais se apresenta sozinho; não é medida, mas conteúdo qualitativo e concreto. Todo ritmo verbal contém já em si mesmo a imagem e constitui, real ou potencialmente, uma frase poética completa.”

        “Os metros são históricos, enquanto o ritmo se confunde com a própria linguagem. Esgotados os poderes de convocação e evocação da rima e do metro tradicionais, o poeta, para ser coerente e ir à poesia, remonta a corrente, em busca da linguagem original, anterior à gramática (edênica sintaxe). E encontra o núcleo primitivo: o ritmo.” (de Os signos em Rotação – Octavio Paz).

         Em outro trecho da mesma obra, o lúcido e cristalino e profundo Octavio Paz reza.

        “O poema transcende e é linguagem, e linguagem antes de ser submetida à mutilação da prosa ou da conversação – mas é também mais alguma coisa. E esse algo mais é inexplicável pela linguagem, embora só possa ser alcançado por ela.”

         “A poesia é linguagem voltada sobre si mesma (como um oroboro de signo) que diz o que por natureza parecia escapar. O dizer poético diz o indizível.”

       Em síntese, Paz considera a prosa ou a fala como degradação da linguagem, e a poesia como algo originário e superior.

        Se o ritmo é inessencial para a prosa, mas ao mesmo tempo é o elemento mais antigo (alicerce) da linguagem, esta nasceu como poesia e degradou-se em prosa.

           A inefabilidade da poesia leva ao indizível e ao mistério, porque não serve para “dizer” nem pode ser racionalmente apreendida, quantificável, reduzida.

                                                                                                        

         Eliot é impecável quando afirma que “a poesia começa com um selvagem batendo um tambor numa selva escura, e ela retém essa essência de percussão e ritmo, de modo que, pode-se dizer, o poeta é mais velho (mais edênico) do que o escritor comum”.

                                   SUMA     

         Tive em mãos – ao alcance delas – os originais de Ora Pro Nobis Scania Vabis e meus olhos caminharam por bandejas de páginas tintas de poesia como um fogo sagrado queimando velhos aparatos discursivos. Mais ainda, tomei a ciência sublime de estar sendo o primeiro a verificar – neste imenso painel imagético – a causa de Vital em prol da verdadeira poesia. Vital Corrêa de Araújo avança impetuoso contra a fadiga do metro e a opulência tecnicista do método. Sua ágil palavra poema nascida no id atualiza o poeta como um ser inútil às commodities literárias estabelecidas e até mesmo ao seu tempo, que o desconsidera, para assim não considerar sequer a hipótese da existência de palavra tão dissonante e estranha à linha de montagem da fábrica Poesia S/A.

          Ao leitor digo: é preciso estar-se nu, sem as vestes seculares que ocultaram o corpo da poesia e sua beleza de dorso e de alma, para comungar no lume e embaixo e dentro e longe do lugar-comum, o que Vital Corrêa de Araújo desencadeia em Ora Pro Nobis Scania Vabis, poema em disparada pelas estradas nordestinas, carregando fardos de auroras e alicerces de sal sem ventre.

 

 

                                                               Rogério Generoso

                                                      Poeta, expositor em cursos de Iniciação

                                                     à Poesia Moderna, Fundador do Movimento Poético

                                                     Invenção de Poesia, autor de Noumenon e Através

 

Murilo Gun

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