“Em Miró, uma nódoa de mosca na tela
pode ser o início de um amanhecer”.
Manoel de Barros
Derrama-se última taça do vinho longo da madrugada
manhã desaba sol doura esfinge dos edifícios
incêndios colossais inundam avenidas desnudas
abre-se alba mecânica ruidosamente pássaros
municipais esvoaçam frias fores de cimento bicam
rasgam-se véus de aço da noite selvagem despertam-se
lentas fontes do urbano e do abismo músculo
da cidade distende-se lança tentáculos sobre homens
toque da manhã brusca acorda mortos habitantes
do apartamento cidadãos automáticos escapolem
das tramas do tédio caem nas teias do cotidiano:
amanhece
imenso vômito de claridade
embebe toda a cidade.






