O semblante líquido ou não resta.
num retrato esquecido na distância
teu rosto antigo está espalhado na sala
(empalhado está teu sorriso velho)
como as palavras dispersas no poema
ou sombra na luz duplicada dos olhos.
Os meses estão à morte
as manhã desmamadas
o curral do sol pende
como uma sombra ou um graveto
são cinco horas nas madames
o vaso dos continentes está saciado
Holderlin bebe da tigela do arquipélago
Pão lírico com vinho vasto (à Marcelino)
o uivo vence a igreja, a nave se dissolve no grito
o avanço da alma é perpétuo
os semestres deteriorados
desistiam dos calendários.
Vejo a manhã como uma réstia
a relva é um silêncio úmido
a luz ultrapassa o tato das pedras
não consigo ler verso, só inverso
vejo o verbo como se o silêncio...
Por que não se aniquilam as tardes
e enfrentam a noite aberta?
Por que não se sabe quantos pratos
de horas cabem na bandeja da eternidade?
Dentro da noite interior vejo
a nua imagem de mim mesmo
a morrer.