És frágil corça
que à aurora desperta
com as açucenas
teus olhos apenas lírios.
É a mansidão de tua boca
trago que mais suspiro
causa a meu coração.
Foges mas não sabes
que travo da delícia
é fruto do tormento.
Em teu olhar rosa pousa
e me sustenta
chama quase extinta.
Pudor das rosas roubaste
quando na ébria tarde exibiste
teu rubor devasso e riste.
Te sinto do ar dos pássaros
e da viração dos jardins:
amor é harpa e não víbora.
Vi em teus olhos brilharem
concertos de rouxinóis
torneios de andorinhas.
Pesa taça mais vazia
porque guarda rastro do lábio
e tristeza da despedida.
Coração do homem folha seca
que vento suplicia
o da mulher tempestade
que dor acaricia.
É teu rosto céu florado
por infinita campina semeada
turbilhão de lírios.
Apenas colho com olhar
chusma de rosas de teu sorriso
quando me negas beijo tímido.
Em te vendo sofro tanto
sofro em não te vendo mais
em sofrendo vejo quanto
por não te ver sofro
muito mais quando te vejo.
Só a alegria salva:
razão revela
a mascara.
E o esplendor do céu só tem rival
do manso incêndio do teu olhar.
Ou gema vaidosa que lua acolhe
entre verdes mananciais da pupila.
Ou nos lumes que estrelas humilham
com lampejos roubados do mar.
Ausência possui e agrilhoa
sou teu sendo trevo partido
a ti sirvo tão inúmero
é sal minha terra crua.
Apenas quero que saibas
que cervos também têm coração.
E tem alma objeto que possuis
com tua fuga infrutífera
pura fonte de desespero.
Néctar da renúncia
trago de mágoa
veneno da alegria
espero
desprezo árduo
que à louca alma
não engana
mais amarga.
Diz Atenas que amor golpeia com vara da jacinto
mas de teus olhos se derramam
esmeraldas apenas.
{jcomments on}