A destruição de Cartago
fogo cartaginês virando cinza
foi-se como nuvem do céu vadio
crepitou o túmulo de Aníbal
seus ossos tornaram-se pássaros
o sal largo do seu peito
onde medalhas de sangue brotaram
virou harpia e descorou em azul
a treva que brilhou de seus olhos
era feroz
as chamas heróicas do coração
se apagaram para todo o sempre
suas batalhas eram deuses
que nele se entocaram.
Recordo agora sua garra, sua fúria
o som de seu escudo contra imigas lanças
e o adro duro do seu rosto
e a nudez de sua dor vencido
e o sorriso de seus inimigos.
Deleta Cartago, apaga seu nome
olvida seus feitos, negue-se a história
do eterno Aníbal
que escravizou povos
e subjugou o mundo.
Não sara a memória.
Não cede o ímpeto.
Os fatos passam. Os feitos ficam.
O de Borges e o de Aníbal.
A cor incendeia o rosto
rubor do futuro nele se adivinha
certeza da verdade
mistério da poesia.
Fadiga que se edifica
cansaço que é comenda
do musgo rebento claridade autêntica
dos olhos brotam visões por vir.
Mamilo belo e róseo
cobiça permanente, velha
é carnal e vital a vida e o fútil
a sombra (ou a tristeza) do poder já não suporta
lascívia de viver
e a liberdade da alegria.
O PERMANENTE PODRE
O rosto já não resiste
à hora que o sulca como trator.
O pranto já não umidifica
a seiva já não serve
o fogo é débil
a chama rota
ermo o espírito
a arquitetura do ser desaba
tudo é detrito
tudo é naufrágio
nada resta do rosto
nada resta da alma
só permanece a carne flácida
e o que permanece apodrece.
Quanto crueldade leva a luz
a iluminar a morte
declará-la como estipêndio
de viver a claridade livre de ser.
A carne adere ao cerne
se agarra ao uivo da manhã
enforma a alvorada
contagia a puberdade.
O que negas constróis
o que te falta
em mim sobra
sou a quimera
tu, mera harpia.
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