03
Dom, Ago

Poemas
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Meu coração é presa do crepúsculo

de Água Preta

de abutre devoto humilde

de suas bordas herméticas

como um precipício rubro escapam

pulsões e chamas de ventríloquo.

 

 

 

Urda ocaso fim de tarde morta

lenta como tortura chinesa seja.

 

Ao contemplar o ocidente

do cimo austero do páramo de Rodrigues

enche-me o peito de pássaros e matafísicas.

 

E Sartre do fundo da noite de feno de Gide

de cima do muro atento do castelo

Simone convida

(com uma rosa imersa num vaso de náusea).

 

Ao poema para ser puro ato de rebeldia

e tornar fértil cru coração do mundo

 

e os vazios azuis e exatos

ou vagos atos

do frio tédio da palavra noturna

extrair o inconsciente da terra

e dentre prismas púrpuros (e maquinais)

vazados do sal solar

libertar o poema

da torpe sina da rima

do ábaco maculado.

 

Do antro do meu coração

presa de Vésper e da pedra

do reino do reencanto das Águias

(que Reginaldo filósofo prepara)

sinto o ser do mundo

pairar do sono do páramo

(de pedra e abandono e do centro do cosmos)

válvula que Hermes

nele instalou

secreta lírico sangue

e mancha insidiosamente

tantas inocentes páginas.

 

Deus apagou do seu léxico

todas as palavras salvíficas

desde que fechou o paraíso

desde que o homem faliu

na empresa de ser

(sociedade anônima

e recusar o divo elo umbilical do nome).

 

Um roteiro de perdição da alma

instaurou com náusea

para o ser ser nada).

 

E rumou o coração da

pusilânime criatura

para a mais profunda quinta

do frio inferno

 

lugar do eterno

inverno da alma.

 

Os alicerces do silêncio

o cimento mudo branco da página

a dor do papel

e o bisturi do id do lápis

são vitais ao poema

(sem os quais empresa de ser

da palavra queda-se para sempre).

 

A palavra-no-poema

é ilimitada

não tem sul, leste

só algum norte

e basto oeste.

 

 

 

Folhas noturnas

tornam-se mariposas lautas

(que pousa num ângulo rápido

de um triângulo isóceles dopado)

 

do redário imponente da mangueira

de copa de pássaro e mesa de terra vejo

ave cair como seca folha

 

e sinto como se estrelas

pousassem na relva descuidada

grávida de luminoso orvalho

e úmida do páramo de janeiro.

 

Reino encantado das Águias

perto do centro do universo

sediado em Águia Preta.

13.01.2013

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Murilo Gun

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