Vital Correa de Araújo
A poesia, o modo de fazê-la, varia em cada época.
A poesia moderna (a que apareceu no fim do século 19) e segue representada pela evolução – não mais revolução, como fora – por várias fases, entre as quais a Geração 30, 45, concretismo, poesia visual, Geração 60 (ou 65, em Pernambuco) e especialmente a de 90 até a plena contemporaneidade, tem marca direta na minha poética.
A poesia moderna encontrou sua forma de expressão no verso livre (e poderia ter sido diferente), o que torna muito mais complexo o problema da forma, questão que tem despertado polêmicas e adicionados desencontros de opinião e de doutrina, bem como dificultado a expressão da própria época em que vivemos. A poesia para afirmar-se no Brasil precisa desnudar e decifrar, expor, abrir sua verdadeira expressão, moderna, atual, da hora presente.
É fundamental e urgente elegermos a forma moderna para expressão da poesia. Sair da potência para o ato.
Um poema é a afirmação (ou a negação, tanto faz) de algo inesperado, súbito, insólito, um flash, um relâmpago mental (como o haicai).
É o silêncio sublimado pela palavra, palavra oferecida em holocausto no altar do sentido.
A lógica poética moderna é ambígua, especial, analógica, ou mesmo é a lógica do inconsciente, a mais real e primária, basal.
O poeta não é um sonhador (linguagem romântica, longe disso), não um decifrador (Freud), mas um fazedor (Borges).
Emoção e razão não contam, hoje, estão à margem do grande rio da poesia, que passa, e deixa à margem detritos românticos e outras antigualhas.
O sentimento não tem sentido em poesia moderna. Ou, a poesia é coisa séria demais para se deixar levar por sentimentos (bons ou maus).
E a questão do diferencial com a prosa? Se você tem algo a dizer, a explicar, a mandar, remeter (como uma mensagem), se você quer passar uma lição, expresse-se não em poesia, mas em prosa, o que é mais rápido, direto, eficiente, com mais produtividade e melhor resultado.
A poesia, o modo de expressão poético tem a ver com o reino do indizável, com a impaciência do silêncio, com o mistério (da vida e da morte) e com o arcano de nosso corpo, com nosso coração escuro.
A tal da compreensibilidade é mortal à poesia, pois seu império é o do indito, o do dizível é a prosa.
Para a máxima incompressibilidade poética, como meta, desiderato, é necessária a compressibilidade máxima das palavras (sua concentração na arena da página em luta com os animais dos sentidos tão ferozes), de tal modo que elas se batam, agreguem-se, amalgamem-se os conteúdos filológicos, comprimam-se – e a gramática (operosa, cuidadosa, ciente de suas regras e convenções) que se dane.