Aquele texto sânscrito, antiqüíssimo, cravou-se em minha curiosidade cravejada de pérolas áridas, do brilho de mistérios percorrida, e comecei a faina hermenêutica,
instrumentado de bússolas e coivaras, cinzéis filológicos, buris hebraicos e tratados de exegeses lingüísticas, além de ruma de dicionários, compêndios de cabalas, contos aramaicos, que me amealhavam o rosto empilhado na mesa eqüidistante do olho.
Por anos consultei alfarrábios, tratados arruinados, papéis colados. Parei. Parei para olhar o crepúsculo. Suas cores intrincadas. Adormeci. Acordei em Babilônia sob bombas. Mergulhei num poço de tempo aberto no chão sagrado, sangrado, pelos bombardeios ocidentais (gretas de Bush). Busquei abrigo no sono novo. Despertei o Brasil.
Era um museu imenso, perto da imensidão, imerso em esmaltes heráldicos e sombras de ídolos sobreviventes arruinados. Me flagrei olhando texto em sânscrito antigo, impassível.
A curiosidade retorna e estagna a vida.
(Coração tão arruinado quanto a época: 2004).