A imprecisão vital do verbo
(pois seu barro é leve e (in)delével
usina de mais de sete vitais ambiguidades
é cruel porém crucial.
O poema como ser inconveniente côncavo
gravidade imperfeita represada
equivocação vital sutil
total desconstrução edificando
(dos edifícios postados e em ruínas
de cimentos de significados estabelecidos
(como ideologia conveniente).
“O grau de competência nada tem que ver
com domínio artesanal do código. Tem a ver
com sua superação”. Leminsky
Poema absoluto leva linguagem
A ilimites
como se não mais houvesse fronteiras disponíveis
lindes da palavra se esgotassem
vastidão de páginas a que se estendesse infinita fosse óbice
tal poema livre dos grilhões da forma
e das jaulas do significado cerrado se fizesse como tal.
O que é próprio do poético
é uma propriedade da palavra
(em vertigem de convulsa beleza tipográfica)
em sua acepção metafísica mar
de águas e sal, de sigilos e quilhas
em que missal repouse a sabor
de ondas ímpias.
Dunas, potros, êmbolos, seivas e catracas
utensílios da alma
reminiscências da lataria platônica
selas, pégasos, botas de lata, cunhas de carne, ferros
pálpebras de sombras, vertigem redonda
de redomas
vozes algemadas (a gargantas de barro)
roxas orquídeas do corpo na anca acantonadas
hordas de desejo e fagulhas de gozo
vezes de água, cravos e celeumas de aroma
eis o homem efêmero do século lasso
além dele mar imerso
numa concha de dúvidas ou cones de óleo vivo
sem o sal de Portugal
matéria efêmera, marítimo sopro
o outro nome do mar iluso do homem.
“O poema eleva a linguagem
a formas quase ilícitas”. G. Steiner
De poeta que fale muito em lua, desconfie. É aluado.
Como eu. Não desconfie das ilusões em poesia. Ou de poeta sem escrúpulos de palavras.
Mesmo com escrúpulo de pedra.
O ceticismo derruba mais edifícios (intelectuais)
que cimento barato com areia de praia mundana.
Penso mas não sei se existo ainda. Se existo
para não pensar, não existirei.
A verdade aflige. A certeza mata. Ou morre.
O ermo não é bom rumo.
O que há de vir é incerto. (Shakespeare)