02
Sáb, Ago

destaques
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

A imprecisão vital do verbo

(pois seu barro é leve e (in)delével

usina de mais de sete vitais ambiguidades

é cruel porém crucial.

 

O poema como ser inconveniente côncavo

gravidade imperfeita represada

equivocação vital sutil

total desconstrução edificando

(dos edifícios postados e em ruínas

de cimentos de significados estabelecidos

(como ideologia conveniente).

 

“O grau de competência nada tem que ver

com domínio artesanal do código. Tem a ver

com sua superação”. Leminsky

 

Poema absoluto leva linguagem

A ilimites

como se não mais houvesse fronteiras disponíveis

lindes da palavra se esgotassem

vastidão de páginas a que se estendesse  infinita fosse óbice

tal poema livre dos grilhões da forma

e das jaulas do significado cerrado se fizesse como tal.

 

O que é próprio do poético

é uma propriedade da palavra

(em vertigem de convulsa beleza tipográfica)

em sua acepção metafísica mar

de águas e sal, de sigilos e quilhas

em que missal repouse a sabor

de ondas ímpias.

 

Dunas, potros, êmbolos, seivas e catracas

utensílios da alma

reminiscências da lataria platônica

selas, pégasos, botas de lata, cunhas de carne, ferros

pálpebras de sombras, vertigem redonda

de redomas

vozes algemadas (a gargantas de barro)

roxas orquídeas do corpo na anca acantonadas

hordas de desejo e fagulhas de gozo

vezes de água, cravos e celeumas de aroma

eis o homem efêmero do século lasso

além dele mar imerso

numa concha de dúvidas ou cones de óleo vivo

sem o sal de Portugal

matéria efêmera, marítimo sopro

o outro nome do mar iluso do homem.

 

“O poema eleva a linguagem

a formas quase ilícitas”. G. Steiner

De poeta que fale muito em lua, desconfie. É aluado.

Como eu. Não desconfie das ilusões em poesia. Ou de poeta sem escrúpulos de palavras.

Mesmo com escrúpulo de pedra.

 

O ceticismo derruba mais edifícios (intelectuais)

que cimento barato com areia de praia mundana.

 

Penso mas não sei se existo ainda. Se existo

para não pensar, não existirei.

 

A verdade aflige. A certeza mata. Ou morre.

O ermo não é bom rumo.

O que há de vir é incerto. (Shakespeare)

Murilo Gun

Inscreva-se através do nosso serviço de assinatura de e-mail gratuito para receber notificações quando novas informações estiverem disponíveis.
Advertisement

REVISTAS E JORNAIS