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Dom, Ago

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                                                           Vital Corrêa de Araújo                                             

      A poesia que se decifra na paixão pela palavra também se exprime no prélio entre cristal e chama, entre diadema e pássaro, escolha ou luta a que poetas dedicam a vida, a dúvida, o ânimo, a alma, o sonho, as horas e o sangue.

     Poetas como Valéry, Wallace Stevens, Gottfried Benn, Drummond, Fernando Pessoa, Jorge Guillén, Ítalo Calvino, Murilo Mendes, Jorge Luís Borges, Juan Ramón Jimenez tiveram como emblema o cristal, a transparência expectante, luxuriosa, cardinal, sobretudo mística, que o cristal encerra, conota, indica, consiste, que o cristal, ao pulsar, incorpora e aveluda ou alumia, tornando transcendentes e quase absolutos textos minerais e primais desses criadores da beleza verbal.

      O cristal que contém facetado poder de refratar luz e invariar a fé na beleza é emblemático do poder descomunal que a palavra dá a estes homens por ela eleitos para alto ofício da poesia, para alto sacrifício da paixão pela palavra.

      Eleitos são poetas que incólumes atravessam séculos e a estes lustram suas mazelas, angústias, promessas, virtudes com o poder apaixonante do verbo.

      Na chama, temos a ordem do rumor, a volúpia geométrica da agitação, do vibrar púrpuro, palpitação fractal, incêndio líquido e extremo.

       Entre chama e cristal, explode o verbo, vige a palavra plena de paixão, o rito amoroso, vórtice de verbo e fogo, que queima e sagra, abismos de luz que abeiram céus e horizontes.

      Aqui, chamo, à colação, chamas poéticas permanentes, como Valéry, Rimbaud, Mallarmé, para expor as respectivas paixões pela Palavra.

      Em Valéry, a palavra vai ao acme da exatidão, apalpando a extremidade da abstração e elegendo o nada como a substância última do mundo, Nele, a palavra jamais será meio, mas finalidade absoluta, paixão verbal, renovada, viva, impetuosa sempre.

      Mallarmé, poeta – quase perfeito – , se ombreia entre os máximos poetas do universo, cuja paixão pela palavra fez dele arquétipo do poeta amoroso, no sentido lato, absoluto.

      Rimbaud, a essência da poesia, invicto lavrador do verbo absoluto, cujo silêncio eloquente ecoa pelos séculos afora, ressoa de modo pleno e atual no terceiro milênio (vide R. Generoso).

Murilo Gun

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