03
Dom, Ago

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                                 Cláudio Veras

     Vital usa em seus poemas o ritmo como fator construtivo, daí a aparente desorganização lógica (predicativa) e desfiguração gramatical (pois a gramática deve estar a favor da legibilidade das coisas, não?).

      Jaz na poesia de VCA um princípio estruturador fundado no movimento do ritmo.

      O metro é uma maneira convencional (como a rima, também, o é) de demonstrar um movimento vérsico externo, enquanto que o movimento rítmico é anterior ao verso.

      É impossível entender (lógica ou afetivamente) o ritmo a partir da linha dos versos, pelo contrário, se compreenderá o verso a partir do impulso rítmico.

      A lírica vitaliana (e idem para R. Generoso, em Através) conleva a uma situação comunicativa imaginária, por meio da qual o falante (o eu poético que na lírica tende a utilizar a primeira pessoa para enunciação, mas em Vital, não) se sente a si mesmo como ser, se intua ao soliloquiar-se como interioridade.

     Na lírica (e em VCA) há um rompimento da polaridade sujeito-objeto, no instante em que o sujeito-eu-lírico, mesmo como algo outro, expresso em terceiras pessoas, está preso ao enunciado, e se distingue de quaisquer outros enunciados de realidade (aqueles que fizeram Valéry declarar: “os acontecimentos me aborrecem”) porque a lírica não tem (nem deveria ter) a função de comunicar nada, senão de constituir uma experiência vivida (e vívida) inseparável de seus enunciados.

      A enunciação lírica nunca é dirigida a objetos (poderia estar-lo, mas indireta ou contingencialmente), mas que, nela, o objeto é absorvido pela esfera da experiência (práxis) do sujeito da enunciação.

      Kate Hamburguer arremata essa questão quando afirma: ainda que a leitura ingênua tradicional (e viciada – CV) de poesia identifique eu = autor, homem, pessoa quase física, exista, entre o poeta (autor) e o poema, “distância e impessoalidade”, marcas explícitas da poeticidade. “Cada eu-tu do poema não remete a um contexto real (objetivo, palpável, lógico, concreto) senão a uma situação fictícia que outorgue coerência á leitura, independentemente de qualquer referente externo”.

 

Murilo Gun

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