À poesia – na acepção original do poeta atiçado pela imaginação, e não mera inspiração físico-romântica - compete a sensação do sobrenatural místico, órfico, em que está presente o êxtase da palavra, independente de regras anacrônicas que visam anular o imaginário, podar a qualidade, pela preponderância da quantidade (métrica, rima, ritmo de metrônomo e outras velharias).
CONFESSO A MIM (O OUTRO)
ao mestre e mentor poético
Sébastien Joachim
TÍTULO PROVISÓRIO
Coo manicômio encomiástico no monastério noturno.
Aos céus atiço fogo cego, lâmpadas de credo, veloz uivo de voz.
Colho estrelas com gesto de olhar em concha.
Duvido que o dever seja infinito abrigo
ELEGIAS GRAVATAENSES - (Meditações de cacto)
À ineptude da palavra poética ergo brado
trânsfugo grito côncavo brando
poluído trago, traço iníquo, canto, lanço
LORCA IMERSO EM MANHÃS
Lorca ou o pranto longo da acéquia, rosas
arremessadas da dor, tumulto de papoula, volúpia do luar
coro de estrela dalva, garganta de guitarra
LEITORA:
Às sensações do papel quando
nele se instalam
sublevadas palavras do poema
AO TIGRE DE SIMETRIAS ABOMINÁVEIS E A BORGES
Para tigres não há limites
saltam como alces
surtam como linces
HIPNÓTICO CREPÚSCULO
Tempo plúmbeo (como o teu, leitora estrábica)
só relógios vândalos (ou lascivos) medem
relógios íntimos, místicos, úmidos, inodoros a Cronos.
(UIVO VIVO)
A palavras contaminadas pelo mercado
(o poema fechado para obras
no mercado da alma
SOB A TENDA DOS SÁBADOS
Sob a tenda súbita dos sábados
afugentar o unguento das mágoas
refugiar-se dos regatos do gozo