Resvalo pela tarde como o cansaço
na piedade de um declive
cruéis fragmentos de abril
deixei ao largo do caminho
Resvalo pela tarde como o cansaço
na piedade de um declive
cruéis fragmentos de abril
deixei ao largo do caminho
Véus tinham ciúme, linhos inveja.
Morte surpreende o dia
brota do corpo da tarde, invade
sombra de âmbitos fiéis
desfilam nos dedos elegantes
Na profana ágora, adro castanho
praça em que poreja multidão
a um crucifixo de metal fidelizada
agora jaz luz de vela lívida
em soberba bacia submersa
cercada de cactos e agrotóxicos
A terra exige seus direitos (alienáveis)
apregoa a pregadores suas mazelas
desola Eliot
que olha suas nervuras e trevos
e treina malmequeres em Álbion
as vacas sagradas dos empreendedores mugem
as veias devastadas dos jovens
Trama na inquieta sombra
traço de ambíguo tigre
ovelha de nuvem amanha
concílio de aço espalha
pela lenta toalha da náusea
Colunas de basiliscos
(filas de centopeias, razias de lacraus
luz de aço arregimentada em covas de veneno)
despontam nas esquinas suicidas do mundo
vérmica horda intestinos açoda
lampejo de bazuca inimigos atribula
da tíbia basílica ossos já relampejam
sacudidos de escuro martírio.
Fim da safra (parca)
farta morte.
Colhe ceifeira
último fruto.
Nichos de górgonas azuis lua esquadrinha
crateras enlodadas ainda lábio escaninha
apetrechos de lustres civis prosperam
como ar nas masmorras.
Búzios etruscos, basiliscos de trigo
fuzis hebraicos encontram postigos.
Do ancoradoiro seio
do púbis ou na vertigem.
(COM NUNCA: LADAÍNHA DE DEFUNTO)
PARA VELÓRIOS POÉTICOS
Vital Corrêa de Araújo
Do ctônico para o etéreo vás num sopro
passagem sem ventre, óssea hospitalidade.