(por que quiabos
e não alfaces?)
Quanto pó no campanário
sem sino ou osso de som
(por que quiabos
e não alfaces?)
Quanto pó no campanário
sem sino ou osso de som
O peso de uma pluma de chumbo
o da pena de níquel da mão escritora
o peso penso da Torre de Pisa
o do punho de Galileu a mover sol
Arpa de abismos
solitários ventos dedilham.
Faço poemas porque acredito em Deus
sei que Ele é inacessível
como o rosto da minha poesia
Rios sonolentes arrasam
olhos para esgoto do nada.
Descubro rumores de cadáver
a meu lado e primícias
de escombros em outubro.
Poesia, límpida fonte de desespero
modo de disfarçar a alegria, cobrí-la
de gestos cegos, sumos cavos, uivos servos
Nada escapa do certeiro olhar de Homero
nem o bruto javali de Erimanto
(com seus dentes hercúleos desiguais)
a Perse
Arde jasmim, foges de mim
porque uivam figueiras
urzes tornam-se cinzas surdas
Garimpo minérios noturnos
espelhos sepultos, cacos de vitrais
jades bruscos da loucura