Viver é simples. O problema é se manter vivo. Precisamos ingerir nutrientes sãos, expelir excrementos mais ar inalar sempre (lógico que com oxigênio O), tudo para evitar o pior: que nossas queridas células morram de tédio (caso nada disso aconteça). Todo o resto é opcional. Conforme The big bang theory e a filosofia. Viver é negligenciar a morte. 

Vens a uma cor cansada
a dor debruçada no porvir
te assalta como um gesto ou uma gata.

A destruição de Cartago

fogo cartaginês virando cinza

foi-se como nuvem do céu vadio

crepitou o túmulo de Aníbal

Observo o torso das minúcias

seus ângulos mais obtusos e escorreitos

as anáguas de seus dados mínimos

Não poetizamos jamais o mundo ou as pessoas
gestos, ações ou encantos do corpo
poetizam-se palavras
(não é o homem criador é o verbo)

Lençois de Ítaca traziam rastro

da fila do sêmen dos pretendentes

a rolarem sobre corpo de Penélope nu

Confesso a noite como confesso a Deus
a dor de ser (vital incrédulo, hiato deserto).

Vim pela vida abaixo como lâmpada morrendo
alastrei manhãs de dor ingente

à noite material da alma

à noite primal da poesia

 Indizível felicidade me traz a noite do Retiro.

Faça-se a si mesmo

liberte-se logo

dos grilhões umbilicais.